Rio de Janeiro-RJ: 5º Ato pela Tarifa Zero e pela Liberdade dxs Presxs Políticxs termina com Violência Policial
O 5º ato pela Tarifa Zero e pela Liberdade dxs Presxs Políticxs, mais uma vez ocupou as ruas do centro do Rio de Janeiro, nessa sexta-feira, 30/01. Desde o início da concentração, marcada para o fim da tarde, na Praça da Candelária, um grande número de policiais cercava a praça e xs manifestantes, já apresentando a postura coercitiva que iria se estender até o final.
Assim que a passeata tomou a Avenida Presidente Vargas em direção à Central do Brasil, a polícia fez, como no ato da semana anterior, um cordão ao redor da manifestação, cercando os quatro lados e impedindo que as faixas e bandeiras ficassem à mostra.
Leia sobre o 4º Ato Pela Tarifa Zero e pela Liberdade dxs Presxs Políticxs
Já era de costume da PMERJ acompanhar a manifestação cercando pelos dois lados da passeata e acompanhando com viaturas a sua parte de trás. Essa nova versão dificulta o objetivo principal do ato de dialogar com a população, protestando contra a precarização e a mercantilização do transporte público.
Levando em consideração o contexto de perseguição xs manifestantes que, inclusive, processa 23 ativistas e mantém quatro presxs políticxs, o cercamento policial era uma representação do encarceramento irrestrito de manifestantes e da explícita censura a qualquer protesto contra o modus operandi da sociedade. É impossível não ver em cada policial a representação de uma das barras de ferro de uma cela de prisão.
Durante o trajeto até a chegada na Central do Brasil, houve algumas tentativas de driblar o cercamento e expor a bandeira à frente dos policias, mas logo em seguida a polícia assumia a frente novamente. Como alternativa a esta censura à liberdade de expressão, xs manifestantes usaram canos ou madeiras para erguer as faixas acima da altura dos policias, podendo assim serem vistas pelas pessoas nas ruas.
Ao chegar em frente a Central, o cercamento policial parou e tentou impedir que a manifestação continuasse a seguir e entrasse na estação, mas, xs ativistas conseguiram driblar o cordão de isolamento saindo pelo lado esquerdo. O cordão policial então se desfez e xs ativistas seguiram em direção à estação, gritando palavras contra a tarifa de transporte e portando suas faixas.
Apesar de a tentativa de entrada ter sido sem tumulto ou qualquer truculência, a polícia começou a agredir a todos que tentavam entrar pelo portal principal, com golpes de cassetetes e chutes. A ação injustificada da PMERJ resultou em três pessoas gravemente feridas e dois detidos, dentre estes, um dos feridos.
Um ativista teve sua perna direita quebrada, outro recebeu um golpe de cassetete na nuca, ficando caído no chão sem conseguir se mexer sem muita dor. Nenhum policial se prontificou a auxiliar no socorro das vítimas.
Várias pessoas tentaram ligar para o 192 e 193, mas tiveram muita dificuldade. Uma delas afirmou que x atendente do 192 disse que não poderia mandar uma ambulância pois se tratava de uma manifestação, o que, sendo verdade, caracterizaria omissão de socorro. Outras duas pessoas disseram que ao completar a ligação para o 192, x atendente dizia que haviam ligado para Volta Redonda. Essas mesmas pessoas tentaram chamar pelo 193, mas disseram que ninguém atendia a ligação. Apenas uma pessoa disse ter conseguido falar com o serviço de emergência e que uma ambulância seria enviada, o que de fato ocorreu 47 minutos depois.
A ambulância no entanto, só levou o ferido em situação mais grave, pois devido a demora, o ativista com o pé quebrado foi socorrido de táxi. Ambos foram levados para o Hospital Souza Aguiar.
Um terceiro recebeu vários golpes e, apesar de estar com muito sangue saindo de sua cabeça, foi detido pela polícia. Além deste, mais um manifestante foi detido por desacato e ambos levados para a 17ª DP. Este último foi liberado após o registro da ocorrência, no entanto, dada as condições de sua lesão, não foi permitido que o ativista ferido desse entrada na delegacia, sendo então levado também para o Souza Aguiar.
Ao chegar ao Hospital, foi impedido de ser acompanhado por seu advogado enquanto aguardava assistência médica, pois, por ordem da polícia, os funcionários terceirizados do Souza Aguiar lhe impediam o acesso.
Tal situação se estendeu por mais de três horas, durante as quais, segundo uma testemunha, o ferido era mantido por policiais armados com fuzis e câmeras nos óculos, sob interrogatório ilegal, fora de uma delegacia e sem a presença de seu advogado.
Na entrada do hospital, parte dos manifestantes acompanhavam a situação além da presença de um grande contingente policial. Funcionários do Souza Aguiar tentavam impedir que mídias ativistas registrassem a situação, enquanto policiais os filmavam.
Por volta das 23hs o manifestante ferido foi levado para a 22ª DP na Penha. Chegando lá, ele e o policial que lhe dera voz de prisão, registraram seus depoimentos. O policial alegou que o ativista, desrespeitando sua ordem, não quis soltar a bandeira que segurava e por isso o prendeu por desacato à autoridade. O delegado considerou o ocorrido como “fato atípico”, isto é, que não houve nenhum tipo de crime que justificasse a detenção.
O manifestante afirmou que não pôde identificar quais foram os policiais que lhe agrediram, pois foi tudo muito rápido e eram muitos policiais. Apesar dele ter apresentado um vídeo feito por um cinegrafista independente que mostrava o momento da agressão (veja o vídeo acima), o delegado disse que como o vídeo não deixa claro qual foi o policial que o atacara, e por isso não podia registrar a queixa por agressão. O advogado do ativista alegou que o mesmo pode entrar com uma ação contra o Estado por lesões corporais e abuso de autoridade.
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