São Paulo se une ao Plantão Mundial pelas Meninas da Guatemala.
Por Levanta Zabelê
No passado dia 21 de março, mulheres e homens de numerosas cidades se articularam em uma ação global de solidariedade para fazer ressoar os gritos das 40 meninas trancadas e mortas queimadas em um quarto do albergue estatal para menores “Hogar Seguro Virgen de la Asunción”, no município de San José Pinula na Guatemala. O crime ocorreu no dia 08 de março desse ano, Dia Internacional da Mulher. O incêndio foi provocado pelas próprias internas para denunciar abusos sexuais e outras formas de humilhação sofridas dentro do abrigo, mas nenhum responsável atendeu a seus chamados de socorro.
Em São Paulo, um grupo de ao redor 10 pessoas se reuniu em frente ao Consulado da Guatemala. Além de sua presença física, cartazes com mensagens de solidariedade foram erguidos e fixados nos muros e postes em frente ao edifício, 40 velas foram acesas e 40 corpos de meninas foram desenhados na calçada. Uma ação de potente simbolismo como forma de registrar o número de vítimas deste terrível acontecimento impulsionado pela cruel omissão de Estado do país centro-americano. Sentadas ou de pé, em sua maioria mulheres, se mantiveram por ao redor de duas horas em vigília, demonstrando o seu apoio às famílias das vítimas.
Pessoas apressadas que passavam em frente ao local diminuíam o passo com curiosidade, algumas pararam para conversar, porém nenhuma pessoa que interrompeu seu trajeto tinha informações sobre essa história de extremo terror e descaso ocorrida em uma data tão simbólica para a luta das mulheres como é o 8M. Algumas pessoas agradeciam ou parabenizavam as manifestantes antes de seguir seus caminhos, outras não compreendiam bem a ação, mas todo o movimento ganhou força ao se unir ao plantão global e não deixar que esse terrível caso seja esquecido, e apagado como também tem sido por quase toda a imprensa brasileira.
O “Plantón Mundial por las Niñas de Guatemala” foi um chamado de organizações feministas da Guatemala pedindo para que as pessoas levassem flores, velas e cartazes para praças e parques do país ou, ao redor do mundo, para a frente dos órgãos de governo da Guatemala de seus respectivos países para demonstrar solidariedade às famílias das 40 meninas e fortalecer seu clamor por justiça. Dia 21 de março é marcado no calendário Maia pelo "Waqxakib' B'atz" como o início de um novo ciclo. É um dia em que se celebra a poesia e o advento da primavera naquela região. Mas também é um marco de luta: é o Dia Internacional contra as Discriminações e pela Memória.
O ato organizado em São Paulo foi articulado por mulheres que formam parte de alguns grupos feministas na cidade com apoio remoto de militantes guatemaltecas. Entre as coletivas presentes estava a 'Levanta Zabelê', que apoia a luta indígena no Brasil com foco na mulher, a 'ComunaDeusa', movimento de luta e resistência ao patriarcado, assim como apoiadoras autônomas das lutas nas áreas da moradia, saúde, educação e dos direitos das mulheres negras e periféricas.
María José Rosales, da organização feminista “LaCuerda”, disse que o plantão mundial foi organizado por um grupo de poucas mulheres de diferentes organizações da Guatemala, “o consorcio de feministas” ela explica, onde estavam a “Alianza Política Sector de Mujeres”, o “Grupo Guatemalteco de Mujeres” e “Las Visibles”, além de muitas apoiadoras feministas autónomas. Ela afirma que se surpreenderam com a resposta positiva ao chamado e com a rápida mobilização de pessoas de numerosas cidades da Guatemala e todo o mundo.
Durante a trajetória de lutas de muitos grupos militantes do país centro-americano, elas perceberam que fazer chamados como este, de articulação internacional, têm sido bastante estratégicos e efetivos para pressionar as autoridades do país. Fazer ruído dentro e fora do país tem ajudado a parar um pouco as políticas contra-insurgentes que os grupos de poder persistem em implementar em nossas vidas, declara Rosales.
Não se sabe ao certo quantos países aderiram ao plantão, mas há registros de ações na Argentina, Brasil, Canadá, El Salvador, Equador, Escócia, várias partes dos Estados Unidos, França, Inglaterra, Nicaragua, varias partes do México e Panamá. Além do chamado para o plantão mundial do dia 21, houveram atos solidários ao redor do mundo desde o dia 08 de março por pessoas que se mobilizaram em ações autônomas em seus países.
Rosales lembra que a Guatemala é um país onde já ocorreram muitíssimos massacres, repressão, estados de sitio e perseguição nas lutas por território. Ela ressalta especialmente os massacres envolvendo fogo, e afirma que a memória dos corpos dos guatemaltecos está bastante presa a esse tipo de crime, que são histórias que conectam e tocam as pessoas mais profundamente, inclusive. No caso das 40 meninas, ela declara, vemos um reflexo de um passado obscuro e que parece que vem todo à tona de uma vez, trazendo a questão do tráfico de pessoas, e como sabemos, isso inclui a ação dos militares.
Segundo as militantes do consorcio feminista da Guatemala, todo o processo de investigação tem sido um descaso. Depois de muita pressão uma conferência de imprensa foi chamada um dia e meio depois do massacre. O secretário do “Bienestar Social”, Carlos Rodas, renunciou seu cargo. Muitas defensoras clamam pela renúncia do presidente Jimmy Morales.
“Acreditamos, que é necessária uma investigação mais ampla, profunda, porque aí existe uma rede de tráfico de pessoas, corrupção, tortura e violência sexual. Existem mais pessoas envolvidas nesse crime, pensamos que somente haverá justiça quando as famílias vivam em melhores condições, quando a segurança das pessoas seja uma prioridade. Muitas dessas meninas eram perseguidas por quadrilhas e já haviam várias denúncias ao longo dos últimos anos. Para silencia-las, eles as queimaram”, declarou Rosales.
O grito das meninas da Guatemala ecoou na tarde do dia 21 de março em São Paulo e ao redor do mundo:
1. Rosa Julia Espino Tobar,
2. Indira Jarisa Pelicó Orellana,
3. Daria Dalila López Meda,
4. Ashely Gabriela Méndez Ramírez,
5. Yemmi Aracely Ramírez Siquín,
6. Jaqueline Paola Catinac López,
7. Siona Hernández García,
8. Josselyn Marisela García Flores,
9. Mayra Haydeé Chután Urías,
10. Skarlet Yajaira Pérez Jiménez,
11. Yohana Desiré Cuy Urízar,
12. Rosalinda Victoria Ramírez Pérez,
13. Madelyn Patricia Hernández Hernández,
14. Sarvía Isel Barrientos Reyes,
15. Ana Nohemí Morales Galindo,
16. Ana Rubidia Chocooj Chutá,
17. Jilma Sucely Carías López,
18. Yoselín Beatriz Ventura Pérez,
19. Grindy Jazmín Carias López,
20. Mari Carmen Ramírez Melgar,
21. Keila Rebeca López Salguero,
22. Kimberly Mishel Palencia Ortíz,
23. Nancy Paola Vela García,
24. Estefany Sucely Véliz Pablo,
25. Lilian Andrea Gómez Arceno,
26. Mirza Rosmery López Tojil,
27. Ana Roselia Pérez Junay,
28. Grisna Yamileth Cu Ulán,
29. Melani Yanira De León Palencia,
30. Luisa Fernanda Joj González,
31. Daylin Anali Domingo Martínez,
32. Iris Yodenis León Pérez,
33. Candelaria Melendrez Hernández,
34. Milenie Eloisa Rac Hernández,
35. Celia María López Aranda,
36. Ashley Angelie Rodríguez Hernández,
37. Sara Nohemi Lima Ascón,
38. Yosbeli Jubitza Merari Maquín Gómez,
39. Silvia Milexi Rivera Sánchez,
40. Yoselin Yamilet Barahona Beltrán.
Nenhuma a menos – a luta das mulheres pelo fim da dominação e violência.
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Sugiro alguns links para base para imprensa de duas agências de notícias:
http://br.reuters.com/article/worldNews/idBRKBN16H1CX-OBRWD
http://www.efe.com/efe/brasil/mundo/sobe-para-31-as-meninas-mortas-em-in...
Mais informações:
http://www.iela.ufsc.br/noticia/guatemala-mulheres-clamam-por-justica
https://m.facebook.com/notes/n%C3%B3mada/esta-es-la-cobertura-que-los-am...
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